Depoimento: Josy

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Olá,


Moro em Vila Velha, ES. Tenho 32 anos e meu esposo 43. Sou casada há quase 5 anos, mas ainda não temos filhos - apesar disto sempre ter feito parte dos nossos planos. Sempre adiávamos por motivos diversos, geralmente por conta de compromissos profissionais meus ou dele.


No dia 17 de setembro de 2010 eu fiz o exame BetaHCG (gravidez) e deu positivo. Não estávamos esperando tanto, porém meu esposo e eu ficamos muito felizes com a gravidez. Comprei a primeira roupinha (amarela), contei para a família e comecei até a ganhar presentes de amigos. Estava adorando a ideia de ser mãe! O bebê nasceria em maio, mês de aniversário do meu esposo. Eu estava felicíssima, nunca havia me sentido tão plena, enfim, estava me sentindo literalmente em "estado de graça".


No dia 24 de setembro começou um pequeno sangramento, tipo "borra de café", mas como todo mundo me falava que sangramento no início da gravidez era normal, eu esperei até a primeira consulta do pré-natal, que estava agendada para o dia 28 de setembro. Chegando lá a médica me analisou e pediu uma ultrasson de emergência e pediu para eu fazer repouso absoluto.


Eu saí na mesma hora do consultório e fui direto fazer a ultrasson em uma clínica especializada, mas quando eu perguntei para a pessoa que estava fazendo o exame se estava tudo bem, meu coração partiu quando ela disse: “Não está não. Você deveria estar de 6 semanas e o feto não desenvolveu. Não tem batimento cardíaco. Tem uma bolsa aqui, mas muitos coágulos em volta... Você deve abortar em poucos dias.” Imagina meu desespero! Comecei a chorar e esta pessoa que fez a ultrasson tentava em vão me convencer de que isso era “normal”, mas eu estava decepcionada e não queria aceitar aquilo como verdade.


Saí do exame arrasada e meu esposo me levou para casa. De casa eu li o laudo por telefone para a minha ginecologista obstetra (GO), e ela falou para eu ir ao consultório no dia seguinte pela manhã. E lá ela me explicou que eu teria 20% de chance de ter ovulado mais tarde e estar de menos semanas, por isso não daria ainda para ouvir os batimentos cardíacos. Me explicou que era para eu ir para casa e repetir a ultrasson em 15 dias para ter certeza do que aconteceu. Eu fui para casa com uma pontinha de esperança de poder segurar meu bebê, mas naquele mesmo dia à tarde me deu uma cólica muito forte e o sangue desceu "vivo" e em grande quantidade. Eu estava sozinha em casa e fiquei sem reação, só sabia chorar, mas ainda bem que meu irmão ligou na hora e pediu para uma das minhas irmãs ir lá me socorrer, porque ela estava mais perto – meu esposo estava no trabalho e não podia sair. Naquela mesma tarde liguei para a minha GO e ela disse que não havia o que fazer. Ela apenas me passou um remédio para amenizar a dor da cólica (que era fortíssima) e explicou que o procedimento a partir de então era o mesmo: esperar 15 dias para repetir a ultrasson. E rezar para que tivesse saído tudo, pois assim não seria necessário fazer a curetagem. E assim fiz, levei o exame à médica e ela informou que o útero estava limpinho, menos mal. E informou que agora teremos que esperar até o final de dezembro para tentar novamente.


Sim, tive uma gravidez anembrionária. Eu nunca tinha ouvido falar nisso, até ter acontecido comigo. Foi quando procurei pelo termo na internet e achei este blog, que para mim foi muito esclarecedor. Me identifico e me solidarizo com todas que aqui deixaram seus depoimentos. Resolvi compartilhar como uma forma de dar uma força, porque de verdade, para mim esta experiência foi muito, muito, muito difícil. Uma dor incomparável porque doía por dentro e por fora... Pior de tudo foi explicar às pessoas o que aconteceu, pois vira e mexe alguém ainda perguntava como estava o bebê e a gravidez, pois a notícia boa se espalhou rápido, mas para "descontar" para todo mundo ainda demorou um bom tempo. Fiquei uns 2 meses ainda explicando para as pessoas, o que era muito chato; eu sei que elas perguntavam na maior das boas intenções, por não saber o que havia acontecido, mas toda vez que eu tocava no assunto eu chorava por dentro e às vezes me segurava para não desabar, pois meus olhos chegavam a se encher de lágrimas.


Mas agora eu já estou superando e acredito que estes problemas me fortaleceram, afinal, Deus só dá a cruz para quem pode suportá-la. E espero que lá na frente eu entenda o porquê que tudo isso aconteceu na minha vida este ano. Infelizmente, depois deste episódio acabei me prejudicando no trabalho e em outubro fiz acordo para me demitirem, pois eu já não estava rendendo muito e também não estava me sentindo feliz com a minha profissão.


Mas chega, agora eu quero só alegria. Agora penso em reconstruir minha vida de uma forma nova e muito mais feliz. Estou estudando de novo e espero fazer outra carreira que me traga mais felicidade e tempo livre para curtir a vida e a família, pois no início do ano que vem espero tentar engravidar novamente e realizar o sonho de ser mãe. Toda esta experiência mexeu com os meus valores e minha visão de mundo tem mudado muito. E justamente é este o meu maior testemunho. Descobri que eu estava num ritmo frenético de trabalho e estresse. Hoje tenho me dedicado mais às pessoas que amo, ao meu esposo e a coisas mais simples. Tudo está nas mãos de Deus. Ele está cada vez mais presente na minha vida tem me libertado e me moldado para ser um ser humano melhor, uma pessoa melhor, uma esposa mais dedicada, uma filha mais atenciosa, e percebi que todas estas dificuldades serviram para me preparar para ser uma mãe mais consciente e amorosa.


Beijos e abraços a todas(os). Paz e Bem!


Josy enviou seu depoimento por email no dia 8 de novembro de 2010.